segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Agora adianta rezar?

Onde andei, quem me chama, onde estou?
Não faço idéia de onde estou, escuto vozes e não vejo ninguém, me sinto dopado. Gostaria de saber que lugar é esse, sombrio, sem luz, úmido, feio, cheio de lixo, como pude parar aqui? Sempre estive em lugares da alta cúpula, comendo e bebendo do bom e do melhor, e como vim parar nesse buraco?
Escuto sussurros, gritos agonizantes, vultos, pontos vermelhos ao longe, como se fossem olhos.
Essas coisas de alguma forma meio que me assustam, e não sou muito de me assustar, já fiz muita coisa sombria, e não me arrependo, tudo por dinheiro, contratos, fama, status.
Tinha todas as mulheres que desejava, muitos carros, uma casa, muito grande por sinal, nunca me importei com os sentimentos alheios, sempre olhei pro meu próprio umbigo, desde quando entrei nessa vida, quando experimentei o poder. Porque resolveu ir embora? me deixou de lado, me largou no frio la fora, não tenho amigos, nunca soube o que é isso, tudo se desfez, caiu, pareceu um feitiço. Não sei se conseguirei me reerguer
quero sentir de novo o gosto do poder, não mais sentir o fel que amarga minha boca
rezo de joelhos, perpétuo, com a voz rouca(Rezar? Aqui não adianta rezar companheiro!).
Com você conheci mundos diferentes, conquistei tudo, nem usei unhas e dentes
destruir tudo que não me servia, não liguei pros sonhos alheios, sabia que tudo conseguiria.
(Vigiei sua vida inteira, sempre soube que acabaria aqui!)
Em alguns minutos sopram em meu ouvido: conquistou tudo que sempre quis, sempre quis estar aqui? Não entendo, estou perdido, e não vejo ninguém, será que estou sonhando? Sonhando? Isso é um pesadelo!
Caminhando por um beco escuro, escuto muito sussurros: - CULPADO, CULPADO, CULPADO, sofra, chegou a hora!
Nunca fui muito religioso, sempre desafiava Deus, isto aqui parece um inferno
(só parece?)
Se for um pesadelo, que por misericórdia me acordem (será um sonho eterno)
(como queres acordar? Fez com que muitos dormissem eternamente, alguns estão aqui, e você os encontra aqui!)
Meu Deus, onde estou? O que faço nesse lugar sujo? Meu lugar não é aqui (aqui sempre foi seu lar)
Desnorteado, confuso, correu pro próximo beco, e assim encontrou um senhor, um mendigo, cujo nome não será revelado.
Com o olhar baixo, dirigiu a palavra ao homem desnorteado: - Por mais que ande por esses becos, por mais que corras, nunca sairá daqui, não tenhas esperança, (deu-lhe um revolver) isso lhe ajudara nas horas difíceis.
E assim o homem correu, e correu, e assim continuou por um longo tempo, e sempre que corria ouvia gritos agonizantes, sussurros, sempre falando a mesma coisa: CULPADO, CULPADO, CULPADO, deves morrer.
Sem saber o que fazer, e quase enlouquecendo com tudo aquilo, não viu outra opção, colocou o revolver em sua têmpora, e apertou o gatilho, assim ficou fora do ar por alguns minutos, e assim se viu no local onde estava pela ultima vez, não conseguiu falar com ninguém, e de repente, acorda naquele beco sujo, úmido.
Começou a ligar os pontos, a memória estava voltando, e assim, um sentimento de culpa lhe tomou conta, gritos de perdão (agora é tarde demais, ficara conosco pela eternidade!) com essa vida conturbada que vivia, tinha muitos inimigos, e assim foi que morreu, enforcado, e jogado na beira duma estrada qualquer. Mas ainda não sabia onde estava, poderia ele estar vivo ainda? Mesmo após ter cometido suicídio? Voltou correndo no beco onde encontrara aquele velho mendigo, e só assim descobriu onde estava...







Inferno.

Por: Caio Duarte

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